João Ferreira Rosa
As vantagens da Monarquia nunca são realçadas.

Pelo contrário, a Monarquia foi e é difamada com falsidades e a maior parte dos historiadores fica calada ou consente nessas falsidades. Há na Comunicação um complexo mesquinho que se serve de mistificações e mentiras, muitas delas com mais de cem anos, como aquela de nos arriscarmos a ter um Rei maluco a quem sucederia um filho maluco. Como se não se soubesse que os Reis portugueses são aclamados pelas Cortes e só depois desta confirmação podem reinar! Portugal, aliás, nem tem casos de Reis incapazes na sua História. Nós somos o país com menos razões para ter uma República. E os outros também as não têm. Actualmente, com a globalização e o acesso à informação, está à vista de todos a diferença abissal entre os países com supostas democracias republicanas e os países com democracias monárquicas, democracias reais. Na Europa, tirando o caso da Monarquia Inglesa, que não tem a tradição de o Rei ou a Rainha andar a passarinhar por King’s Road, todos os Monarcas andam livremente entre o seu povo, falam com toda a gente, nem trazem segurança. São pessoas absolutamente normais e respeitadas pela qualidade que têm e pelo trabalho que fazem.

A Monarquia expressa melhor do que a República a identidade nacional?

Na Monarquia, o povo está unido numa figura que é de todos. Isso, uma República não consegue fazer com nenhum Presidente. A função do Rei é apaziguar, enquanto o Presidente é uma fonte de dramas, problemas, conflitos. E também corrupção. Abre-se um jornal qualquer e só se vê escândalos em Repúblicas, desvios de dinheiros, abusos e prepotências. São antros de quadrilhas, de máfias, que mudam as leis para se safarem da cadeia. E ninguém importante é preso: quem foi preso em Portugal por corrupção? Um insignificante negociante de sucata? Há um clima de impunidade porque não há sentido de unidade em torno de um projecto nacional, que só o Rei personifica. Na Europa, antes da Revolução Francesa, as Repúblicas tinham Rei. Quando se começa a obrigar o povo a “eleger” esse Rei, chamado Presidente da República, aí divide-se o povo. Perde-se a ideia de o Chefe do Estado ser o chefe de uma Família que a todos representa, que representa a Pátria. Há pouco, na América, toda a gente dizia maravilhas do Obama. Agora já começam a dizer que não, que era muito bom na campanha mas que depois já não presta. Claro que, por definição, nenhum Presidente presta. Mas isto mostra bem a fragilidade da instituição presidencial. 

Nas suas andanças pelo mundo, sentiu a dimensão universal da Nação Portuguesa?

Senti. Logo nas primeiras vezes que fui a África. Depois de todas aquelas horas de avião, chegar a Luanda e sentir-me em Campolide ou em Campo de Ourique... No Brasil, também. Ainda hoje uma pessoa lá sente a importância da Família Real Portuguesa. No Brasil, a instauração da República foi também uma coisa horrível, que só serviu para dar o poder àqueles coronéis para explorarem uma escravatura miserável, mal alimentada. Quando ainda hoje eles gritam “Isabel! Isabel!”, é uma homenagem que prestam à Princesa Isabel, que libertou os escravos com a Lei Áurea e que os republicanos se apressaram a pôr na rua meses depois! A República brasileira é tão nojenta como a nossa. Simplesmente, lá faz mais impressão porque é um país riquíssimo com tanto miserável. O que seria o Brasil se se tivesse mantido o Império? A Família Imperial era a impulsionadora do grande projecto de colonização e desenvolvimento do Brasil, cientificamente preparado, com a fixação das famílias mais indicadas para cada um dos territórios a desenvolver, até com famílias de alemães, japoneses, etc. Há ainda vestígio desse grande projecto na cidade de Blumenau, no Estado de Santa Catarina, fundada por um colono alemão nesse período de progresso. Mas não é só o exemplo do Brasil. Basta pensar que aquilo que é hoje o Canadá se deve a não ter sido República. A grandeza e o nível de vida da Austrália devem-se a nunca ter tido um Presidente. São democracias exemplares. E depois olhamos para as Repúblicas africanas, por exemplo, e ficamos estarrecidos.

A República é má por definição?

A República é um cancro, uma doença que contamina tudo aquilo em que toca. Veja-se o que se passa nestes países da América Latina. Aquele louco que agora quer mudar a Constituição para lá ficar toda a vida como ditador feroz… E veja-se a grande diferença: o actual Presidente americano, ao visitar o Japão, fez uma enorme vénia ao Imperador. O tal Obama, “o homem mais poderoso do mundo”, perante o Imperador, que não governa mas é um símbolo com milhares de anos, ele curva-se. Sentiu o respeito, talvez instintivamente, por aquela instituição extraordinária. É fantástico. É a diferença entre o poder do Obama e aquela dignidade, aquele peso de história milenar. O Japão é um grande exemplo. Um país tão devastado por desastres naturais, com uma população sempre a crescer, e que vive tão bem. E sem abdicar daquele símbolo real, daquela união com o seu Imperador, com a instituição tradicional. 

Apesar da necessária evolução…

Claro, as Monarquias evoluíram e vão sempre acompanhando a vontade do povo. O povo vai elegendo os Governos que quer e o Rei aceita a votação. A Monarquia é um regime em que o povo é representado por uma Família cujo chefe aceita a vontade das maiorias e respeita as minorias. Por isso as Monarquias evoluem. As Repúblicas é que ficam na mesma ou tornam-se ainda piores. As Monarquias progrediram ao ponto de terem preparado a evolução dos povos coloniais. A independência do Brasil foi feita pela Monarquia Portuguesa, pela Casa de Bragança, e foi um exemplo de liberdade sem sangue nem luta. A descolonização britânica, por exemplo, não se pode comparar à criminosa descolonização portuguesa. Os países da Coroa Britânica estavam num grau de civilização tão grande que, no momento de se tornarem independentes, não abdicaram da sua Rainha. Se Portugal se tivesse mantido como Monarquia e se tivesse feito referendos em Angola e nos outros territórios, o mais natural era estes terem ficado independentes sob a mesma Coroa, como na Commonwealth. Agora, até os países que tinham estado ligados à República Francesa, e até Moçambique, estão a mudar para a Commonwealth. Preferem a Coroa Britânica. Preferiram manter-se ligados à sua Rainha, que por sinal é dos Chefes de Estado mais baratos do mundo: para manter as suas despesas, cada súbdito paga anualmente menos de um euro. E o orgulho que têm nela! Endeusam-na de tal maneira que não deixam que ela ande, como outros Reis europeus andam, descontraidamente pela rua. Não, os ingleses querem a sua Rainha majestosa. É a sua tradição própria, e isso é respeitado por toda a gente que vai a Londres e vê aquele amor pela Rainha.

Viveu a descolonização?

Vivi esse drama terrível. No dia da independência de Angola senti-me morrer um pouco. Eu estive em Angola ainda criança, e depois voltei e conheci-a bem. E vivi dois anos em Moçambique, quando estava a acabar o liceu. Andei por todos esses territórios, conheci-os de ponta a ponta, e nunca vi uma aldeia onde as pessoas tivessem fome. Andei pelos sítios mais inóspitos e nunca me passou sequer pela cabeça estar em perigo. Nunca vi fome. É horrível pensar no que fizeram ali. Dizem-me que há sítios da antiga África Portuguesa onde hoje se morre de fome e em que as doenças alastram. Não me conformo. Já quiseram que eu voltasse a Angola e a Moçambique, mas não quis ir. Prefiro não ver. Cabinda foi outra infâmia. Deram o território a quem eles quiseram, quando se sabia que nenhuma relação tinha com Angola. Pelo contrário, Cabinda tinha-se colocado, a pedido dos seus Reis, sob a protecção da Coroa Portuguesa. Os Reis de Cabinda eram afilhados da Casa Real Portuguesa e tinham honras de fidalgos-parentes. É infame terem ligado o Reino de Cabinda a Angola. Esta descolonização foi também obra da República. Alguns grandes republicanos ganharam muito com a descolonização. Sabemos que há meia-dúzia de malandros que tinham fortunas em África, fizeram-se com quem cobiçava os territórios, receberam por isso, puseram o dinheiro na Suíça e entregaram aquilo a criminosos.

Em Monarquia teria acontecido esta descolonização?
Em Monarquia, isto não teria acontecido. Havia uma adesão extraordinária à Coroa Portuguesa. O Príncipe Real D. Luís Filipe foi a África em 1907, pouco antes de ser barbaramente assassinado pelos republicanos, e foi recebido em glória pelo povo, pelos indígenas. Levava meia-dúzia de oficiais e andou por toda a parte, sempre rodeado de milhares de negros em armas, tudo a prestar homenagem.

Mas o povo não é elucidado sobre a verdadeira História…

Não, estas coisas não divulgam os republicanos. Nem a televisão se dispõe a esclarecer o povo. A televisão actual é a deseducação, é tudo o que há de mais rasca. Com esta lavagem ao cérebro, têm transformado os portugueses num povo atrasado e ignorante. Está adormecido e enfraquecido. Mas é a única coisa que ainda presta em Portugal. Apesar de tudo, o povo ainda consegue estar lúcido. E como é inteligente – somos, que eu também sou do povo! –, revê-se nesta raiva que se tem à corja que domina o país. O povo tem consciência de que a República é dirigida pelos republicanos, e que o seu órgão de estimação, a Assembleia da República, é feita com republicanos. O povo sabe que eles são deputados da República, não são deputados da Nação, não são de Portugal.

Embora lá haja monárquicos…

Acredito, mas nunca ouvi nenhum dizer na Assembleia da República que é monárquico. Se há, não se notam.