João Ferreira Rosa

Razão de ser

João Ferreira-Rosa, um dos maiores intérpretes e poetas do Fado tradicional das últimas décadas, nasceu em Lisboa em 16 de Fevereiro de 1937. 

Foi ouvido pela primeira vez em público aos catorze anos, no Teatro Rosa Damasceno, em Santarém, durante uma festa da Escola de Regentes Agrícolas, de que era aluno. Mas só se revelou ao País em 1961, no programa “Nova Onda”, da Emissora Nacional, ao lado de outros fadistas amadores como Mercês da Cunha Rêgo, Tereza Tarouca e Hermano da Câmara.

Manteve desde então um perfil artístico de grande sobriedade, privilegiando a qualidade poética e musical e a pureza tradicionalista dos temas que interpreta. A sua arte é frequentemente equiparada à de fadistas como Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues e Maria Tereza de Noronha – alguns dos intérpretes que mais admira. 

Avesso ao ambiente artificial dos estúdios e adepto do Fado espontâneo das tertúlias, sempre resistiu a gravar e assinou até hoje uma discografia escassa e seleccionada. “Só canto quando me apetece”, explica João Ferreira-Rosa a quem lhe pergunta porque não grava mais.

Em 1966 abriu a casa ‘Taverna do Embuçado’, num recanto histórico do típico bairro lisboeta de Alfama, que rapidamente se tornou uma referência para os amantes do Fado tradicional. Pela ‘Taverna’ passaram os maiores nomes da Música e das Artes – e às suas célebres ceias e noitadas acorreram personalidades de todo o mundo, sendo ali frequentemente recebidos Reis e Presidentes. Em 1964 aceitara gravar o mais conhecido tema do seu repertório, que deu o nome à casa: “O Fado do Embuçado”, com letra de Gabriel de Oliveira e música do ‘Fado Tradição’, da cantadeira Alcídia Rodrigues. Foi o seu primeiro disco




Entre os seus muitos êxitos contam-se “O Meu Amor Anda em Fama” (Pedro Homem de Mello/Reinaldo Varela), “Mansarda” (João Ferreira-Rosa/Alfredo Duarte), “Triste Sorte” (João Ferreira-Rosa/Alfredo Duarte), “Despedida” (Pedro Homem de Melo/João Marques Amaral), “Fado das Mágoas” (João Ferreira-Rosa/Pedro Lafoens), “Partida” (João Ferreira-Rosa/Joaquim Campos) e “Os Lugares por onde andámos” (João Ferreira-Rosa/José Franklin) e “Arraial” (Fado Pintéus). 

Adquiriu, nos anos 60, o Palácio de Pintéus, na aldeia do mesmo nome, no concelho de Loures, onde em 1996 gravou “Ontem e Hoje”. Alguns dos fados deste álbum, carregados de significação patriótica, nunca foram passados nas rádios nacionais. Em Pintéus e na casa que mantém na zona histórica da vila de Alcochete, João Ferreira-Rosa continua hoje a receber tertúlias de músicos e cantadores amigos, unidos pelo amor à Tradição lusitana.

No ano em que se comemora o centenário da instauração da República, João Ferreira-Rosa, monárquico português, aceitou o repto de um grupo de amigos: registar, sob a forma de diálogos vivos e numa linguagem acessível ao grande público, as razões que o opõem ao regime republicano e as vantagens que encontra numa Monarquia tradicional adaptada aos tempos modernos. 

É uma súmula desses diálogos, gravados em Alcochete e Pintéus, que agora se põe à disposição do público.