João Ferreira Rosa
Não vota? 

Só voto nas eleições locais. Nessas, eu conheço-os. A votação nos partidos é uma coisa abstracta, para manter o povo iludido. No tempo da Monarquia tivemos a eleição uninominal. Nas Cortes e nos Municípios, cada um assumia as suas responsabilidades pessoais e tinha de trabalhar para o bem do povo que o elegia. Isso, sim, era democracia. Agora, com este Parlamento de papagaios, estou de acordo com quem diz que bastava termos cinco deputados: cada partido tinha lá um representante e estava o assunto resolvido! Para quê aquelas centenas de gulosos, alambazando-se em mordomias, carros, almoços, viagens, cadeirões de pele com as armas da República em dourado, um estadão, instalados naquele palácio fabuloso que custa fortunas em restauros e manutenção? É um insulto para o povo pobre. Nem nos países ricos se dão a um luxo destes.

E sobre a eleição do Chefe do Estado?

Mesmo se pudesse haver dúvidas em relação às outras eleições (e não há), em relação à eleição do Chefe do Estado os factos estão à vista de todos: é apenas dividir para reinar. Nem é preciso estarmos a convencer ninguém da bondade das Monarquias. Basta olhar para o mundo, que hoje em dia podemos ver a partir de casa. Desde logo, o Presidente é um Chefe do Estado politicamente comprometido. O Rei, pelo contrário…O Rei ou a Rainha…

O Rei ou a Rainha, sem dúvida. E na nossa História temos também óptimas Rainhas. Talvez por serem mães. Já nas Repúblicas é raríssimo haver uma mulher Presidente!

E um Rei ou Rainha não está politicamente comprometido?

Não está. Não tem partido, não vota. Está acima. E toda a Família Real tem o sentido do Estado, porque foi preparada para isso. São pessoas com um sentido de responsabilidade que é natural, inato. Vivem com orçamentos sensatos e dão um exemplo de moderação e dignidade. Em República é o regabofe: as fortunas que custa mantê-los, às suas famílias, à sua entourage, os conselheiros, os secretários, os assessores, um batalhão de gente para nada de útil. Está provado que é infinitamente mais barato manter um Rei do que um Presidente. Sobretudo, um país falido como Portugal não se pode dar ao luxo de sustentar uma República. Veja o exemplo dos países nórdicos, dos povos ricos, dos povos livres. Eles são isto precisamente porque não quiseram a República. A questão colocou-se, depois da II Guerra, e eles recusaram. Uma das razões foi essa: não tinham dinheiro para manter uma República. As Repúblicas são caras e não prestam. Um Presidente custa dezenas de vezes mais o que custa uma simples Família Real. Ora, não se pode obrigar um povo pobre a sustentar dirigentes milionários.

Parece que ninguém pensou nisso em 1910…

Infelizmente, em 1910, meia-dúzia de bandidos tomaram conta disto e instauraram a ditadura republicana. E hoje, em vez de termos na Chefia do Estado alguém que desde que nasce é preparado para servir, temos estes senhorinhos que, durante cinco ou dez anos, saem da obscuridade em que viviam para se irem instalar, deslumbrados, num palácio com criados e cozinheiros, num estadão escandaloso, com câmaras frigoríficas para as senhoras guardarem os casacos de peles. E ainda pagamos reformas milionárias a todos os ex-Presidentes e pagamos às primeiras-damas, que nem sequer existem na Constituição. E o povo na merda, para falar à portuguesa. Há cada vez mais fome. Eu vou à farmácia e vejo gente do povo que vai aviar uma receita e não levanta os remédios todos porque não tem dinheiro. Alguma vez a República se incomoda com isso? 

A República nem gosta que isso se veja muito…

Pois não! Se a televisão, que tem um poder extraordinário, mostrasse ao povo estas evidências, estas verdades simples, a República desmoronava-se num instante. Mas as televisões e os jornais fazem parte deste esquema, e por isso defendem o que está, porque se isto mudar também eles perdem o negócio. E os poucos jornais que contam as coisas como elas são, estão fora do sistema, não têm publicidade e acabam por ser sufocados. Por isso, nem me admira que ainda haja quem pense que a Monarquia é um Rei a cavalo, muito cheio de dourados, uma Rainha toda de mantos, uns patetas que são Reis porque os avós já eram. 

Falta esclarecer o povo.

As televisões, sobretudo, não cumprem o seu dever de esclarecer o povo. Bastava ouvirem os portugueses que vivem e trabalham nos países onde há Monarquias: na Holanda, no Canadá, na Austrália, na Suécia, na Inglaterra, no Luxemburgo, na Espanha, na Bélgica, noutros países onde há Rei ou Rainha. E compare-se com aqueles onde há República. Veja-se a grande diferença que há entre o Japão e a China, o Canadá e a América, a Nova Zelândia e a Argentina. É abissal. Os países mais atrasados do mundo são Repúblicas. As ditaduras são Repúblicas. Os países mais livres, mais ricos, onde há maior bem-estar, mais Justiça, melhor saúde pública, são Monarquias. Só que isso não passa na televisão. Dantes havia uma censura, hoje parece que cada órgão de Comunicação tem a sua...